terça-feira, 31 de dezembro de 2013

The End

Dor e Confiança

     Falta pouquíssimas horas para acabar o ano de dois mil e treze. Achei que o ano anterior seria o pior ano da minha vida. Administrei com muita dor, a ausência do meu prezado avô Antonio Targino, que partiu subitamente vítima de infarto. Foi o primeiro corpo da família que eu vi exposto, sem cor, sem brilho nos olhos, sem calor nas mãos, sem suor. Foi a primeira vez que não recebi um beijo na testa. Esperei até o último momento em pé, bem ao lado do corpo, segurando o tempo todo a mão do meu velho, tudo para digerir aquilo ali com mais rapidez, observando todos os movimentos, sentindo todas as dores dos que ali passavam e olhavam lamentando aquela situação. No meu silêncio escondi o meu grito, o meu desespero e a minha fraqueza. Descontei nos dias que se sucederam. Chorei nos três primeiros meses depois daquele dia 2 de fevereiro, até as lágrimas secarem. Deus reergueu-me, como sempre faz quando estou no chão.


   O ano de dois mil e treze começou cheio de expectativas. Depositei no então novo ano, todas as esperanças em dias melhores, em mudanças positivas e principalmente na realização de muitos dos meus sonhos. Não foi bem assim. Até as mínimas coisas que eu planejei, não deram certo. De alguma forma fui impedido de realizar o roteiro que tracei nos primeiros seis meses. A mais dolorosa das minhas perdas, administro até o momento. Uma doença me levou uma bela percentagem de minha pele, que foi fortemente agredida. A 'varicela' que adquiri em abril, deixou marcas fortíssimas do meu corpo. O mais doloroso, nem foi o confinamento que fui obrigado a respeitar. Mas sim o fato de que eu iria viajar naquela semana. Um sonho que eu havia parcelado meses antes, que implicou em outros pagamentos antecipados. Perdi boa parte do valor que investi. Bariloche também foi um sonho não realizado - um plano que não aconteceu. Nem cheguei a pisar em solo argentino. Mas aceitei. Entendi que não era a vontade Dele pra minha vida naquele momento. "Deus sabe todas as coisas". (pensei).

    A faculdade foi a única coisa que deu certo. Ao menos isso, não é? Terminei o temido quinto-período blocado e segui rumo ao P6, com o CRE em alta. Foi minha felicidade. Posso dizer com todas as letras, que o meu curso é o meu maior investimento e eu ficaria muito triste se desse algo errado depois de tantos altos e baixos na minha vida acadêmica. Mas graças a Deus, saiu tudo perfeito. Conheci muitas pessoas, passei pelos melhores professores da Universidade Federal da Paraíba, e participei da inauguração de algo que eu tanto sonhei para a minha universidade: o Auditório de Cinema Aruanda. Foi tudo perfeito! Foi nessa boa fase que percebi quem de fato dos meus amigos eram de verdade. Subi alguns de patente. Muitos amigos rebaixei para a posição de colegas, e alguns colegas promovi para o roll de amigos. E assim continuamos sorrindo, estudando, brincando, jogando uno e compartilhando bons momentos. Minha alegria em 2013, encontrei todas as manhãs nos corredores da universidade, nos sorrisos e nos abraços dessas pessoas que eu tanto prezo.

   Nessa fase, também relacionada a universidade, tive que fazer uma escolha bem difícil. Continuar com meu curso superior, ou permanecer trabalhando na mesma função, no mesmo lugar, sem perspectiva nenhuma de crescimento, a não ser para os lados - engordando naquela cadeira de rodinhas do estúdio. Nem precisou colocar na balança. É claro que escolhi continuar investindo nos estudos. Rejeitei sem exitar a possibilidade de acabar com tudo. Mesmo fazendo a escolha certa, depois de cinco anos fazendo parte de uma família, me distanciar dela também foi uma grande dor. Porém, necessária senti-la e administrá-la com sabedoria e maturidade. Fiquei no chão mais uma vez. Mas logo segui. Deus reergueu-me como sempre faz quando estou no chão. Foi uma dor que me fez crescer. Entrei na empresa, eu era um menino que não sabia de nada, mas com muita vontade de aprender. Saí um homem.

  Quando tudo começa a se reestruturar na minha vida. Quando nenhuma dor me incomodava tanto ao ponto de me fazer parar no tempo, acontece algo que me deixa sem chão. Reencontrei um amigo de infância na academia que eu treino. Conversamos sobre o passado. Falamos da nossa antiga banda. Lembramos da música que compomos juntos e cogitamos marcar uma coca-cola para possivelmente compor outras coisas, junto com todos os outros amigos que fizeram parte daquela nossa boa fase da adolescência. Essa reencontro com a parte boa da história. Deus me deixou cuidar do meu amigo pela ultima vez. Malhamos juntos. Ajudei ele nos cinco quilos no supino (pense num menino forte hehehe). Ele falava da carteira de motorista que havia tirado, do namoro que ia muito bem, e do seu retorno ao IFPB. Encontrar Joallyson foi um presente de Deus. Não vê-lo mais depois daquele dia, também foi permissão dEle. Meu irmãozinho sofreu um grave acidente de moto e morreu cinco dias depois do Hospital de Trauma na cidade de João Pessoa. Deus chamou Joallyson para morar em sua casa. Deus levou meu amigo, e me deixou uma grande dor. Mais uma saudade pra sentir. Outra coisa bem difícil de digerir.


    Hoje, 31 do 12 de 2013, virei a madrugada estudando minha vida. Fazendo cálculos. Descartando todos os planos. Me encorajando a ser mais forte diante das minhas fraquezas. Deferente de todos os anos que se passaram, de 2014 eu não quero nada. Eu não espero nada. Nada que venha de mim. Nada que seja fruto do meu egoismo. Depois da meia-noite, eu quero sentir aquela doce paz do Espírito Santo no meu coração. Quero que meus dias sejam escritos por Ele, e não por mim. Em dois mil e quatorze, quero esperar como todo cristão que se preze.  E de dois mil e treze não quero levar nada. Essa madrugada de balanço me fez pensar na trajetória de Salomão - um homem sábio da Bíblia que colheu os bons frutos da sua vida vivida debaixo da graça de Deus. Um homem que soube esperar. Um homem de Deus. 



   Tudo pode até está meio ruim até agora, mas Deus há de me reerguer, como Ele sempre faz quando estou no chão. "O que é, já foi; e o que há de ser, também já foi; e Deus pede conta do que passou"
E para 2014 a regra vai ser esperar e confiar fielmente nos planos de Deus para com a minha vida.

Eclesiastes 3:1-8:

Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Sopro de Kleber Santtus

Crônica da saudade de um amigo que chora    

     Essa é a provável leitura de um menino que engolia lágrimas no sofá da casa de um amigo, bem na transição de um dia para o outro, precisamente nos primeiros minutos daquele que deveria ser um aniversário feliz. O dia estava só começando, mas o coração do moleque começara a apertar demasiadamente, e piorava a medida que os ponteiros se aproximavam da meia noite. Ele lia as primeiras mensagens nas redes sociais e chorava. Ele via fotos de amigos, que por sinal são muitos, mas a ausência de um deles - aquele que o tempo de amizade o transformou em um irmão - fazia o moleque soluçar de tanto querer que o tempo voltasse, ou que a realidade fosse menos dolorosa. 

A lágrima vem em menor quantidade, assim como a
dor vem menos intensa, à medida que o tempo passa.
    No começo da noite, contra a minha vontade, mas à pedido dele, o levei ao local do acidente que resultou na morte do seu melhor amigo. Lá, em volta da árvore, ainda havia estilhaços da moto e marcas de um canto a outro que permitia remontar ou supor de que forma a tragédia teria acontecido. Andamos em volta dos riscos que haviam no chão. Recolhemos algumas peças e lá mesmo às deixamos. O garoto só queria conhecer o lugar e a árvore que amparou o amigo naquela tarde do dia 23 de novembro. Se ele sentiu a mesma sensação que eu senti quando eu estive ali pela primeira vez, imagino que tenha ficado muito mal. Acho que estar naquele lugar pesou muito a alma do Kleber, ainda mais naquele dia, à poucas horas do seu aniversário.


     O Kleber é um carinha corriqueiramente bem humorado. É um garoto bem jovem, que ainda mais do que eu, é apaixonado por música. Ele é ousado e sonhador. Transforma histórias em canções e sabe bem compartilhar seus sentimentos e aliviar sua dor dessa forma. O último trabalho do Kleber é uma homenagem ao amigo que Deus levou para compor no coral celestial. O choro do garoto, acredito eu, era uma reação da letra da sua música que ele estava cantando baixinho, de maneira bem inconsciente. O coração as vezes canta quando a gente não quer. E a gente chora, porque o corpo termina por externar a dor que a gente sente do lado de dentro.


     Lamentei muito. Não pude dizer muita coisa a não ser que ele não se deixasse abater daquela forma. Mas se ele quisesse chorar, que chorasse. Compreendo que certas lágrimas não podem ser evitadas. Alguns sentimentos devem ser mesmo externados para podermos nos sentir aliviados. A mesma necessidade que sentimos de gargalhar quando estamos naquela doce essência da felicidade, sentimos também de chorar desesperadamente até soluçar. No chão. No travesseiro. Ou no ombro de alguém.


     O menino foi descansar para encarar o dia depois que o sol rasgasse a noite com seus primeiros raios de luz. Deve ter demorado a dormir, mas tenho certeza que dormiu aliviado. Quem nunca dormiu chorando e acordou sorrindo lembrando de alguém, não deve ter amado ninguém. 


   Ele acordou. Recebeu o carinho da família. Atendeu ligações. Respondeu Whatsapp. Acompanhou Facebook. Abraçou amigos. Jogou conversa fora. E soprou as velas.