segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Sopro de Kleber Santtus

Crônica da saudade de um amigo que chora    

     Essa é a provável leitura de um menino que engolia lágrimas no sofá da casa de um amigo, bem na transição de um dia para o outro, precisamente nos primeiros minutos daquele que deveria ser um aniversário feliz. O dia estava só começando, mas o coração do moleque começara a apertar demasiadamente, e piorava a medida que os ponteiros se aproximavam da meia noite. Ele lia as primeiras mensagens nas redes sociais e chorava. Ele via fotos de amigos, que por sinal são muitos, mas a ausência de um deles - aquele que o tempo de amizade o transformou em um irmão - fazia o moleque soluçar de tanto querer que o tempo voltasse, ou que a realidade fosse menos dolorosa. 

A lágrima vem em menor quantidade, assim como a
dor vem menos intensa, à medida que o tempo passa.
    No começo da noite, contra a minha vontade, mas à pedido dele, o levei ao local do acidente que resultou na morte do seu melhor amigo. Lá, em volta da árvore, ainda havia estilhaços da moto e marcas de um canto a outro que permitia remontar ou supor de que forma a tragédia teria acontecido. Andamos em volta dos riscos que haviam no chão. Recolhemos algumas peças e lá mesmo às deixamos. O garoto só queria conhecer o lugar e a árvore que amparou o amigo naquela tarde do dia 23 de novembro. Se ele sentiu a mesma sensação que eu senti quando eu estive ali pela primeira vez, imagino que tenha ficado muito mal. Acho que estar naquele lugar pesou muito a alma do Kleber, ainda mais naquele dia, à poucas horas do seu aniversário.


     O Kleber é um carinha corriqueiramente bem humorado. É um garoto bem jovem, que ainda mais do que eu, é apaixonado por música. Ele é ousado e sonhador. Transforma histórias em canções e sabe bem compartilhar seus sentimentos e aliviar sua dor dessa forma. O último trabalho do Kleber é uma homenagem ao amigo que Deus levou para compor no coral celestial. O choro do garoto, acredito eu, era uma reação da letra da sua música que ele estava cantando baixinho, de maneira bem inconsciente. O coração as vezes canta quando a gente não quer. E a gente chora, porque o corpo termina por externar a dor que a gente sente do lado de dentro.


     Lamentei muito. Não pude dizer muita coisa a não ser que ele não se deixasse abater daquela forma. Mas se ele quisesse chorar, que chorasse. Compreendo que certas lágrimas não podem ser evitadas. Alguns sentimentos devem ser mesmo externados para podermos nos sentir aliviados. A mesma necessidade que sentimos de gargalhar quando estamos naquela doce essência da felicidade, sentimos também de chorar desesperadamente até soluçar. No chão. No travesseiro. Ou no ombro de alguém.


     O menino foi descansar para encarar o dia depois que o sol rasgasse a noite com seus primeiros raios de luz. Deve ter demorado a dormir, mas tenho certeza que dormiu aliviado. Quem nunca dormiu chorando e acordou sorrindo lembrando de alguém, não deve ter amado ninguém. 


   Ele acordou. Recebeu o carinho da família. Atendeu ligações. Respondeu Whatsapp. Acompanhou Facebook. Abraçou amigos. Jogou conversa fora. E soprou as velas.


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