As conversas dessa semana, com inúmeras pessoas, foram bem depressivas. Na sua maioria, uma queixa irreversível no rumo que muitos deram às suas vidas. A coletiva "depressão" era no sentido de saudade de um tempo que passou e não volta mais. As palavras chaves se resumiram em: saudade, lembranças, juventude, tempo, família, viagem, universidade, relações, presente, passado e futuro. Simples conversas me fizeram viajar no tempo e refletir sobre o que eu tenho feito da minha vida.
Vivemos de fazer escolhas, e muitas vezes sem a chance de escolher certas coisas na vida que vão tomando seus rumos naturalmente, perdemos certos prazos, quando pensamos demais.
Uma professora me ouviu falar sobre a minha intenção de aproveitar o recesso da UFPB, fazendo um intercâmbio para a América do Sul. Parece que a ideia reascendeu uma chama de passado, que no meu ponto de vista ficou clara na empolgação da mestre com a minha planejada viagem. A professora desabafou. Falou de algumas viagens que fez no tempo da juventude. Falamos de culturas, e do quanto é mágica essa troca de costumes. Falamos de coisas, lugares, e ela me pareceu querer muito poder viver um pouco disso sem precisar de tempo para planejar uma fuga. "Aproveite enquanto você é jovem, ta solteiro, e sem filhos", disse a professora com toda empolgação expressa no seu olhar.
No dia subsequente, em um ponto de ônibus, eu estava lendo um livro que eu havia ganhado recentemente de uma amiga. Do nada, escutei um sussurro de alguém. Era um senhor desconhecido. Retirei o fone, e pedi para que aquele homem repetisse a pergunta que ele havia feito. "Qual o nome desse livro laranja?", perguntou aquele homem. Foi mais ou menos assim o papo:
- O que disse, Sr.?
- Qual o nome desse livro bonito?
- O Sr. viu a cor do livro e não leu o nome na capa?
-(Risos) eu não sei ler. Não essas letras miúdas.
- Ha ta, me desculpe! É o Xangô, de Jô Soares.
- É bom ler pra saber das coisas. Muito bem!
- Eu aprendo mais vivendo, do que lendo.
- Eu faço isso até hoje. (risos) Mas se o tempo voltasse, eu mudaria algumas coisas nos meus fazeres.
-La vem meu ônibus. Tchau!
-Tchau menino! Ate mais ver.
Eu e minha simpática ignorância. O Sr. com todo seu ar de bondade e inocência, fez apenas uma pergunta simples. Eu, com minhas crises de "don't touch me", respondi crente que se tratava de uma pergunta idiota, de alguém querendo falar mal do livro titulado de "Xangô". Mas era apenas um Sr. que não sabia ler. Depois que subi no coletivo, me arrependi de não ter deixado o ônibus passar. Eu poderia ter ficado mais tempo, e conversado mais. Me veio à mente aquelas histórias dos anjos que vêm em forma de gente para nos ensinar um pouco de amor. Pensei e pensei. Era a segunda pessoa da semana ao me falar de tempo, prazo e mudanças.
Hoje, eu não conseguiria dormir sem escrever sobre essas passagens especais na minha vida. Coisas do meu cotidiano que me fazem pensar - o quê e como eu tenho vivido a minha vida. Teve uma terceira pessoa. Dessa vez uma amiga importantíssima na minha vida. Alguém que vibra com todas as minhas conquistas, e ao mesmo tempo, me sustenta com palavras positivas quando estou vivendo auges de fracassos. O que não é o caso. Falamos sobre muitas coisas e rimos juntos de um monte delas. Observamos a lua de dentro do carro, e, viajamos pela Europa, mergulhados intensamente numa bela película brasileira. As palavras que resumem bem a noite de hoje são: tempo e lugar.
De um tempo pra cá andei me questionando sobre os pulos que eu dei nesse mundo de meu Deus, dentro e fora do Brasil. Sem fazer contas, viajei e conheci culturas de cidades vizinhas, estados vizinhos, e até alguns países da América do Sul. Trabalhei, ganhei e investi. Hoje uma alegria do tamanho do mundo tomou os espaços do meu coração. As conversas com os meus heróis me fizeram sentir orgulho de ter vivido tudo que vivi, na idade que vivi. Costumo chegar a certas conclusões depois de um certo tempo. A professora, só queria me fazer ver o quanto é importante viver essa fase de liberdade dos vinte e poucos anos: viajando, amando, vivendo. Aquele senhor que encontrei no ponto de um ônibus qualquer, me passou uma linda lição de moral: paciência. Ele só queria que eu visse que nem tudo se resume nas aparências, muito menos na maneira como vivemos as nossas vidas. O homem que não sabia ler, sabia das coisas. O papo curto com aquele senhor me fez entender que mudar as coisas, certos "fazeres"(como disse ele), poderia não ser uma boa ideia. Talvez era isso mesmo que ele queria que eu fizesse - que seguisse meu caminho sem escutar as lamentações de alguém que talvez me convencesse fácil daquele dia de pensamentos ruins. A terceira pessoa, me fez o mais orgulhoso dos homens. Ela admira com entusiasmo todos os meus passos de mochileiro que anda por aí com sede de conhecimento. Sempre com fome de novas culturas. Sempre entusiasmado com o que possivelmente vai encontrar de novo por aí.
Eu não sei o rumo que você está dando a sua vida. Não conheço as vossas prioridades, e adoro não viver a base de uma. Gosto de mudar quando acho que devo. Gosto de ter liberdade de ir onde eu quero, e quando eu quero. Gosto de me aventurar e cair de paraquedas em qualquer lugar. Viajar sem rumo e sem destino. Gosto de liberdade. Gosto do fato de não estar casado. Adoro ter vinte e poucos anos de idade, e um monte de coisa pra viver.
O melhor da vida é essa fase de grandes asas. Pássaros envelhecem, e os vôos vão ficando curtos depois de um certo tempo. O que devemos evitar, é o precoce aparo dessas asas. Somos pássaros humanos, dotados de liberdade, e temos o céu inteiro pra voar, antes que tudo acabe.
Estou voando. Sem Stop!