A festa começara ainda era dia numa famosa praça da cidade de João Pessoa. Compreensível, é a dificuldade de lembrar quando a consciência dos pássaros bateram as asas, deixando sua criaturas expostas a céu aberto, num ambiente escasso, sem saber, sequer, os ponteiros que o relógio marcara. E caiu o sol. Lá vinha a lua rasgando o céu com toda sua exuberância no entardecer do CH. Começara a noite dos pardais. Isso mesmo. Pardais. A festa era de aves vagabundas. Nada de Elite. Ficaram de fora as águias de rapina, azulões e muitos outros. Mas os pardais presentes na festa, esses tinham de monte, e de todas as tribos e cores. As aves se juntaram e sobrevoaram o lugar em busca de boas energias. Escutaram uma mistura de sons nas proximidades, e o seguiram.
Foram parar numa conhecida rua, até então desconhecida por eles. Uma água aparentemente suja descia os córregos da estradinha - que mais parecia um "Beco". Um grupo de aves se formou para arriscarem juntas uns goles naquele que podia ser um veneno. (nunca se sabe) É assim que morrem os corajosos: peitando com coragem o pouco provável, o improvável e o talvez. Mas não foi dessa vez. Ninguém morreu. A água preta tenha gosto de rapadura. Um doce na medida certa, possivelmente, misturado com muitas ervas. Acredito que se tratava de uma bebida perigosa, gradativamente, alucinógena, apesar do seu sabor exótico. Certamente uma bebida ilícita. Talvez por isso corria livremente apenas nos cantos do Beco. E lá estavam as aves... dava o gole, quem contribuía com um pouco de coragem e alguns míseros centavos. E foi muita coragem, e muitos, mas muitos centavos. Rápido-rápido as aves atingiram o primeiro litro. A partir dai a "vibe" das aves era curtir com os olhos fechados, confiando uma nas outras.
O som ficava cada vez melhor e os sentidos dos pássaros ficam mais aguçados, tornando aquela festa, a melhor de todas na vida de cada um. Mas que bobagem! Como pode uma bebidinha fazer um turbilhão de bagunças nos comportamentos daquelas criaturas- pensei! . E começou o incompreensível aos olhos de quem observara de longe a farra das aves. De asas abertas batendo sem parar, foram se formando os pares. Posteriormente, as aves se bicaram entre si, e de três em três, se abraçavam e se tocavam. O sentimento ao redor era de inveja. A boa inveja de querer participar, e ao mesmo tempo serem impedidos por todas as dimensões da ATITUDE, exceto o pensamento, que voara loooonge. Alguns "alones" na festa
se sentiram mais peixe que aves, mas resolveram aves também ser. Deleitaram-se. Entraram no círculo, mas bicada mesmo era sempre de três em três, prevalecendo a heterossexualidade dos pássaros-machos. Separadamente, todos, principalmente as fêmeas puxavam mais alguém para participar daquela... digamos: boa-orgia.
As crises de comportamento foram atingindo os pássaros. Mas era uma crise inversa, daquelas que os sábios demais não costumam pensar: "Puts! Eu nunca fiz isso antes" - "Eu nunca faria isso" - " Hoje, vou me permitir". Pareciam cantar juntos a música do Lulu Santos: "Hoje o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos... Vamos nos permitir, e não há tempo que volte... Vamos viver tudo que há pra viver. Vamos nos permiti!". Lá estavam as criaturas com toda habilidade pra dizer mais sim do que não, e assim tornaram a noite incrível, despidos de vergonha e recalque de moralidade. Aquilo era algo para acrescentar na lista das poucas loucuras que as pessoas fazem nessa vida.
A festa continuou noite adentro. E no dia seguinte, os pássaros voltaram a ser gente.
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